segunda-feira, 13 de maio de 2013

Energia

Canal Energia
Remuneração baixa tira interesse de investimentos em transmissão
Receita máxima estabelecida pela Aneel deverá ser mantida este ano mas agência ainda vai analisar os fatos que levaram a 40% de lotes sem lance
Mauricio Godoi, da Agência CanalEnergia, de São Paulo, Planejamento e Expansão
10/05/2013

A taxa de retorno e o baixo nível de remuneração foi o principal problema do leilão de transmissão realizado nesta sexta-feira, 10 de maio, pela Agência Nacional de Energia Elétrica. Dos 10 lotes que foram ofertados apenas seis foram concedidos, sendo que três tiveram apenas um interessado o que levou a um deságio médio de apenas 11,96%, um dos mais reduzidos nos últimos anos. Dos mais de cinco mil quilômetros ofertados, 916 km mais 3 subestações ficaram sem concessionários.

De acordo com a avaliação de Humberto Gargulo, da Upside, a taxa interna de retorno estava muito abaixo do que se imaginava como adequada para esses tipos de projetos tanto que ele, após o leilão, questionou o retorno adotado pela espanhola Abengoa para conseguir arrematar três dos seis lotes que foram concedidos. A Upside lembrou que até as empresas do Grupo Eletobras não apresentaram lances competitivos para os lotes que tiveram concorrência o A e o B.

Ele lembrou que nas contas dos investidores há a percepção de que a taxa livre de risco - representada pelo equivalente à remuneração do titulo de tesouro nacional - que está em cerca de 4,25%. Esse indicador fica quase no mesmo patamar com custo médio ponderado de capital (WACC, a sigla em inglês) de 5%, estimado pelo diretor da Aneel, Julião Coelho, para o certame. Porém, segundo um executivo próximo ao segmento de transmissão, na realidade a taxa de remuneração era de 4,6% o que permitia pouca manobra nos valores.

Essa mesma fonte contou à Agência CanalEnergia que o cenário visto hoje é o reflexo do cenário da baixa taxa de remuneração, empresas descapitalizadas e os maiores riscos de investimento com questões fundiárias. A combinação desses fatores foram desestimulados ante o retorno oferecido. Contudo, descartou qualquer relação com o sentimento de insegurança jurídica que as medidas recentes do governo trouxeram ao setor elétrico.

"A coisa hoje está feia, a RAP está muito apertada para os empreendimentos que foram colocados nos leilões e por isso que não estamos vendo interesse dos investidores", disse a fonte. O sentimento após a disputa realizada na sede da BM&FBovespa era esse mesmo, outra fonte comentou rapidamente que não valia a pena arrematar os lotes de qualquer jeito em uma mostra clara de que as receitas anuais máximas permitidas realmente desagradaram os investidores.

De acordo com o diretor da Aneel, Julião Coelho, esses lotes que não apresentaram lances serão alvo de novos estudos para verificar a causa de terem ficado sem lances e disse que a partir dessa análise a agência vai direcionar a uma solução. Entre as possibilidades estão a revisão da RAP, a alteração da configuração dos lotes para agregar ativos de maior escala, ou ainda, aumentar o prazo para a construção dos empreendimentos nos próximos leilões. Os lotes variavam entre 22 meses e 36 meses a partir da assinatura do contrato de concessão.

"O modelo é seguro e prova disso é que temos investimentos garantidos", afirmou o diretor da Aneel a jornalistas em coletiva após o leilão. "Lotes que dão vazio não são novidade, já aconteceu", minimizou ele apesar de não poder precisar porque as estatais, sempre presentes nas disputas em anos passados não apresentaram lances.

Julião Coelho refutou a ideia de que a metodologia para o cálculo da RAP, alvo das críticas de investidores, possa ser alterada em função desse resultado. Ele explicou que os valores são obtidos por meio de uma forma analisada pela agência reguladora anualmente e que passa por audiência pública. "Não dá para mudar por livre vontade tem base técnica para o resultado. A tendência é de manter a metodologia", comentou.

Pelo lado dos investidores apenas a Neoenergia e a Isolux, que arremataram os lotes G e H, respectivamente falaram sobre o leilão. Para ambas os ativos fazem parte da estratégia de presença na região onde os empreendimentos estão localizados. O da Neoenergia nos estados da PB e RN e da Isolux no PA e TO. A maior vencedora, também espanhola Abengoa se recusou a comentar os resultados.

O Superientnendente de Licitação de Concessões de Transmissão daAneel, Ivo Nazareno, explicou que os problemas apresentados pelos lotes que deram vazio serão analisados e precificados, mas que ainda é cedo para apontar o que deverá ser feito. Dependendo dessa análise, os lotes poderão voltar à disputa ainda este ano.

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